quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Quando as coisas se perdem na cabeça...

Olás, 

Pode ser que hoje, o post não seja engraçadinho, romântico, com temática nerd, nem nada do tipo. Mas é algo que sempre tive vontade de dizer , de desabafar, e hoje esse momento chegou.

Minha avó materna, Dona Adélia, foi vítima de uma das doenças que dizem ser 'do século': Alzheimer. E isso foi um choque para toda a família quando descobrimos.

Lembro com total precisão da primeira crise dela. Ela estava com seus 83 anos, e chorava desesperadamente querendo a mãe, que já havia morrido a uns 40 anos. E como explicar isso? Tentamos e tentamos acalmá-la e por fim ela adormeceu. E no outro dia parecia que nada tinha acontecido.

Mas as coisas aos poucos foram mudando. Uma coisa ou outra errada na comida. Uma troca de nomes. Um pergunta sobre como estava alguém que faleceu. Foi muito difícil, muito mesmo, os três anos que ela passou com essa doença. Nos últimos dois anos ela já não me chamava pelo meu nome. Precisávamos dormir em duas pessoas, uma dormia e outra vigiava pois ela acordava no meio da noite e queria levantar. Eram mil olhos a todo momento pois ao menor sinal algo acontecia.

Doía muito, e ainda dói, lembrar de como ela ficou. De como tivemos que realmente dançar conforme a música. Algumas vezes rimos da situação, outras dá um aperto no coração. Lembro que ela insistia que não estava em casa, que estava viajando e queria ir embora. Minha tia deixou uma malinha com toalhas pronta para essas crises. E ai quando acontecia, levávamos ela de carro durante uns 20 minutos e voltávamos, e ela chegava com um sorriso no rosto, cumprimentando a todos como se tivesse passado uma temporada fora.

Foi difícil para caramba sim. Mas sei que fizemos tudo o que podíamos por ela. E além na verdade. A paciência as vezes sumia, mas ai era hora de respirar fundo e pensar: é ela quem precisa de mim agora. Ela que sempre cuidou de mim desde criança, lavou minhas fraldas, fez meus almoços, me levava na natação, cuidou das minhas cólicas menstruais da adolescência e se felicitou com o meu primeiro emprego. Ela precisava de mim agora: que eu ajudasse no banho, que levasse ao banheiro, que trocasse a fralda, que fizesse e desse a comida, que deitasse junto na cama e segurasse sua mão porque estava com medo, que conversasse sobre tudo e sobre nada como se fosse a conversa mais coesa da vida.

Quem já passou de perto por isso sabe como é. Cada caso é um caso, mas eles se completam. Essa doença marca a família e eu não desejo a ninguém. Perder a noção das coisas, da vida, da sua história. É árdua a luta, que recomeça a cada dia. 

Quando enfim, ela nos disse adeus, meu coração estava triste sim, mas estava em paz. Talvez por eu ter vivido tão próxima dela nos últimos anos, eu sabia que tinha acabado essa guerra dela com ela mesma. Ela estava tranquila, e em paz. Sem doença, sem problemas, sem confusões. E isso me confortou, e me conforta até hoje, quando bate a saudade, quando as lagrimas querem vir. Que hoje ela está bem. E cuida de mim de onde ela estiver. A Saudade não vai passar, em 8 anos, ainda não passou. Ela fica aqui.. tem dias que doí mais, mas a gente aprende a lidar.

Obrigada por quem leu até aqui esse desabafo. Foi uma coisa que saiu do coração. Totalmente carregada de lembranças. Poderia falar até não caber mais aqui sobre todas as histórias. Mas meu coração já está mais leve agora...  

(Embu das artes - SP - 2007 {O ano em que a doença apareceu})

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