terça-feira, 9 de abril de 2019

L29...

Sumi. E talvez, seja a primeira vez que o motivo realmente foi cabível.

Dia 17 de Janeiro de 2019, quase 17 hs. Estava eu trabalhando, finalizando as minhas tarefas na empresa, pensando em como seria meu fim de semana, já que meu namorado iria viajar com a avó. Estava programando sair com minha mãe, ir conhecer a bebê de uma amiga, ver minhas séries, dormir. E tive um pensamento um pouco antes, de que tudo estava fluindo bem naquele ano. Estava tudo nos conformes, não poderia estar melhor. E pensava que poderia passar na padaria, e comprar pão para jantarmos com salsicha naquela noite, já que minha mãe iria trabalhar a tarde.

Até que tomei uma rasteira da vida. Meu celular toca. O número da minha mãe. Só que o celular. Coisa que achei estranho, já que pelo horário ela já estaria em casa. Engano meu. Era a chefe dela na linha, me avisando que ela havia sofrido um acidente, que estavam no hospital e que o médico já havia avisado que ficaria internada e precisaria de cirurgia.

Naquela hora, eu só tremia. Perdi o chão. Só queria ver minha mãe. Ela teve uma fratura no joelho, e precisaria de cirurgia para colocar pino. Meus pais não tem convenio. É tudo pelo SUS. Pedi saída para a minha chefe, fui para casa e meu namorado me levou até o hospital. Eu precisava ver minha mãe, não adiantava ninguém falar que ela estava bem, eu precisava ter essa certeza. Ela ficou numa ala de aguardo, onde esperaria para ir para o quarto. Quando tivesse uma vaga. Naquele mesmo dia o médico já disse: Cirurgia prevista para 31/01. Desesperei! Pensei em como faria nesses 15 dias, como seriam as coisas.

Consegui entrar e ver como ela estava. Meu coração acelerado, porém aliviado de ver que ela estava bem. Assustada mas bem. Ela é forte. Quis chorar quando me viu, mas segurou. Quis chorar quando a vi, mas segurei. Nós sabíamos o que enfrentaríamos dali para frente. Passei aquela noite lá. Nas cadeiras do lado de fora do grande quarto. Onde pessoas aguardam: aguardam medicação, quartos, cirurgias... de tudo vi ali: fraturas, dores de estomago, problemas psicológicos. Foi uma longa noite. Uma noite que parecia não acabar. Rezei, li, cochilava muito pouco. Estava preocupada com ela. Não queria deixa-la sozinha. 

Naquela noite, minha cabeça não parou. Acho que não parou até agora na verdade. Nos primeiros dias não pudemos mais ficar lá. Apenas quando ela fosse para o quarto. Foi rápido que liberaram uma vaga. Mas a previsão da cirurgia era a mesma. Isso se não aparecessem emergências. Foram 15 dias. Que eu sai mais cedo do trabalho, ia para lá e ficava com ela até o fim da visita da noite. Ela não queria que eu e meu irmão passássemos a noite lá. Mesmo com o coração na mão, obedecemos. Então ficávamos até as nove da noite, e logo cedo minha tia já ia para lá.

Era uma luta dia a dia. Ficar imobilizada, parada numa cama, para minha mãe, era tortura. Ela tem uma garra, é tão ativa que me impressiona. Mas ver aquela mulher que tanto admiro, ter que ficar quietinha me cortava o coração. Mas eu não falava nada e todos os dias dizia: tá acabando mãe. Logo vamos embora!

Posso dizer que me surpreendi com o atendimento do hospital. Escutamos tantas coisas que dá medo de acontecer algo com algum parente. Digamos que 98% do tempo minha mãe foi bem tratada. Os 2% foram por duas situações que não afetaram a ela diretamente, mas que eu precisei surtar para fazerem algo. E não me arrependo de nada do que disse, de nenhum palavrão e de nenhuma lágrima que derramei nessas situações.

No dia da cirurgia, quando ela saiu eu assustei. Ela estava dopada. Falava muito lentamente, sonolenta. Fiquei preocupada. Mas as enfermeiras me acalmaram, dizendo que era normal e que logo ela voltaria. E voltou! Conseguiu comer, conversou melhor. E no outro dia teve alta. E foi ai, que a luta começou. 

Dias que me desdobrei, aprendi, reaprendi. Que virei mãe e filha. Mais a primeira do que a segunda. A rotina toda mudou. Da casa e da vida. Foram inúmeras trocas de fraldas, choros, desabafos. Visitas sem fim, afinal, minha mãe é uma das pessoas mais queridas que conheço. Dias que eu tive que ser o apoio dela, mesmo sem saber de onde eu tirava forças para isso. Foram semanas que pareciam não passar. Tivemos dias bons e ruins. E superamos, vivemos, e aprendemos. 

Hoje, quase dois meses depois, ela está bem. Não está 100% ainda. Mas já anda, com a ajuda da bengala. Já vai ao banheiro sozinha, e toma banho de pé. Me ajuda em pequenas coisas na hora de fazermos as refeições e o dificil agora é fazer ela ficar deitadinha. Mas ela sabe o seu limite, e entende que ainda não pode tudo.

Sinto que nesses dias, desde o dia do acidente, eu amadureci. Talvez num pico muito alto. Aprendi muita coisa, deixei de lado tantas outras. Aprendi a dar prioridade ao que importa, que as coisas não surgem em casa sozinhas. Entendi ainda mas a importância que ela tem na casa e na nossa vida. Em como hoje sinto falta de coisas bestas, como o café dela, já que agora sou eu quem faço. Aprendi que são nessas horas que a gente vê quem está do nosso lado mesmo, e quem só fala que está.

Amadureci, mudei, penso algumas coisas bem diferentes de antes. Tudo o que aconteceu deve ter um motivo que Deus, o universo e tudo o mais quer mostrar. Ainda não entendi a mensagem, pode estar criptografada, em latim, ou nas entrelinhas. Mas entenderei em breve. 

Esse assunto ainda renderá alguns post's aqui. Mas antes de mais nada precisava desse primeiro desabafo.

Foram 15 dias no L29 na UTR.. dias que aprendi coisas que não aprendi em 28 anos. E estamos seguindo, aprendendo, vivendo...


4 comentários:

  1. Postagem linda, só quem estava do seu lado sabe da dor, só que passou por isso sabe da responsabilidade e da sensação de abandono de quem mais amamos quando o acaso nos açoita e tais pessoas somem. Porém isso nos deixa mais fortes, sentir o sopro do dragão que nos assusta na própria cara faz com que nos tornemos seres humanos mais resistentes, adaptáveis e perspicazes, pois quando somos destruídos e retornamos, percebemos que na verdade somos indestrutíveis!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você foi um dos que esteve do meu lado, mesmo de longe... me orientando, me botando pra cima. Faltam palavras pra te agradecer!

      Excluir
  2. Há situações em nossa vida que nos mudam de uma maneira tão intensa e repentina, né? Imagino todos os desafios que você e sua família passaram nesse período, e como é um alívio ver uma pessoa que amamos, se recuperando e voltando pouco a pouco a vida normal.
    São ensinamentos que levamos para toda a vida mesmo!
    Desejo melhoras e que tudo volte logo a ser 100% normal por ai!
    Beijos
    Dai Castro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Dai.. e olha eu, respondendo seu coments só agora! Graças a Deus tudo ficou bem sim!

      Obrigada pela força

      <3

      Excluir

Obrigada pelo comentario ♥ Logo será respondido :*